terça-feira, 18 de setembro de 2018

CRÍTICA DO FILME | HOT SUMMER NIGHTS (2018)

Descrição da imagem: banner do filme Hot Summer Nights, em letras rosa neon e com o rosto de Timothée Chalamet olhando para o lado e uma imagem de uma roda gigante próxima ao mar. 



Em praticamente todo ano são lançados filmes com a temática “coming of age”, ou seja, filmes em que seus protagonistas passam por uma fase de amadurecimento, especialmente na adolescência.  Alguns se destacam pela ótima qualidade, outros pela falta dela e outros tantos por conter características mais cool do cinema indie.  Hot Summer Nights  (ainda sem título em português) se enquadra na terceira categoria. É um filme que aspira ser um pouco mais que uma estória descolada ambientada nos anos 90. Basicamente é uma simples história de um adolescente que vai passar as férias de verão em outra cidade e acaba se envolvendo com traficantes de drogas ao mesmo tempo em que se apaixona pela primeira vez.  Festas de verão, lanchonetes e cinemas drive-in compõem a maior parte do pano de fundo, mas nada parece autêntico, já que outros tantos filmes (e séries) atuais costumam utilizar essa nostalgia para agradar o público. Pessoalmente, adoro celebrar a nostalgia que hoje virou moda principalmente por causa de Stranger Things (que amo!). Mas mesmo achando tudo isso bacana e divertido, com um tempo, os filmes e séries lançadas hoje que se passam nas décadas de 80 e 90, acabam se tornando repetitivos. E é justamente isso que ocorre com Hot Summer Nights. Mesmo gostando do estilo dele, do visual e claro, da trilha sonora, a narrativa em si não se aprofunda muito para nos entregar uma estória sólida e orgânica. O maior trunfo do filme é o excelente Timothée Chalamet (indicado ao Oscar esse ano pelo também excelente e lindo Me Chame Pelo Seu Nome).  Ele interpreta o jovem deslocado Daniel , chamado de Danny pelo seu novo amigo e traficante de maconha, Hunter (Alex Roe, de A 5ª Onda).  

Uma das decisões mais estranhas de todo o filme é a sua narrativa. A narração em “off” ou voiceover pode ser um sucesso ou um fracasso num filme, e é de certa forma, inconsistente quando seu narrador nunca é apresentado ao longo da história e somente nos segundos finais do longa. Acredito que o diretor (o estreante Elijah Bynum) inseriu o narrador como uma forma estranha de quebra da quarta parede, onde ele fala sobre os eventos e sobre os personagens como se fossem contos lendários de aventuras.  Mas, por justamente este narrador não ser de fato um personagem que se envolve com os demais, este tipo de artifício narrativo não se encaixou perfeitamente na história. Talvez, esta escolha do diretor tenha prejudicado o desenvolvimento de seu protagonista e dos outros coadjuvantes.

Descrição da imagem: Timothée Chalamet e Alex Roe sentandos lado a lado numa mesa de lanchonete.

Mas mesmo assim, a trama envolvendo Danny, Hunter e a irmã deste, McKayla (Maika Monroe, de Corrente do Mal) ainda consegue desenvolver alguns mistérios e subplots  que nos fazem sentir um certo suspense sobre a possibilidade de algo dar errado no relacionamento dos três. Isto porque Hunter deixa claro que ninguém deve se aproximar de sua irmã McKayla, deixando Danny numa situação complicada já que ele está perdidamente apaixonado por ela.  O roteiro consegue construir um pouco o subplot de Hunter, levando-o  dos clichês de “bad boy” à uma pessoa que está procurando ser amado. Sua relação distante com a irmã e um pai problemático o faz querer a atenção da filha do policial local, a jovem Amy (Maia Mitchell, da série The Fosters) e uma cena dele com o pai da garota nos faz entender suas motivações e este  momento entre ambos acaba sendo um momento de compaixão para eles.  

Gostaria que Danny, o protagonista, tivesse uma cena mais emotiva e profunda, já que Timothée Chalamet tem o talento incrível de passar para nós suas emoções apenas com o olhar (como na linda cena final de Me Chame Pelo Seu Nome). Entretanto, ele fez aqui em Hot Summer Nights, o melhor que pôde dentro das possibilidades do roteiro e seu Danny poderia ter sido um personagem com mais camadas em um roteiro mais bem elaborado.

Descrição da imagem: Maika Monroe e Timothée Chalamet frente a fente so olhando e sorrindo.

Infelizmente as duas únicas mulheres do filme, Amy e McKayla,  estão ali puramente como objetos de desejo para os personagens masculinos. Para Hunter, Amy representa uma vida melhor, uma que iria livrá-lo de seus crimes anteriores. Já McKayla é a garota que todo mundo quer, como o narrador nos diz ao longo do filme. E mesmo seu relacionamento secreto com Danny acaba não tendo o desenvolvimento satisfatório para a narrativa. A única parte remotamente interessante de seu caso são as mentiras que Danny se prende entre Hunter e McKayla. Mas os resultados finais das escolhas do personagem levam a uma conclusão insatisfatória para os três.

A direção é competente em alguns aspectos, mas falha em outros. O enredo que parece sempre fazer parte de vários videoclipes é interessante nos momentos iniciais, utilizando muito neon e uma pitada de slow motion demostrando o efeito da maconha em Danny numa festa ao som da música Tarzan Boy, hit dançante dos anos 80. Outra boa cena musical é o momento onde Danny beija McKayla num parque e de repente sobe Space Oddity do David Bowie, o real motivo da cena se desatacar (afinal, essa música é um hino atemporal 💜).  A direção como um todo está mais interessada no estilo do que na substância da obra, característica presente em outros tantos filmes. Mas mesmo assim, Elijah pode vir a ser um diretor mais maduro futuramente, afinal, assim como aconteceu com outros cineastas em início de carreira que ao longo dos anos foram se aperfeiçoando, espero que ele também se destaque no cinema.


Trailer oficial:



FICHA TÉCNICA:

Gênero: Comédia, Crime, Drama
Direção: Eijah Bynum

Roteiro: Elijah Bynum
Elenco: Timothée Chalamet, Alex Roe, Maika Monroe, Maia Mitchell, Emory Cohen, Thomas Jane, William Fichtner, Reece Ennis, Jeanine Serralles, Shane Epstein Petrullo, Jack Kesy
Produção: Dan FriedkinRyan Friedkin, Bradley Thomas
Fotografia: Javier Julia
Trilha sonora: Will Bates
Edição:  Jeff Castelluccio, Tom Constantino, Dan Zimmerman
Figurino: Carol Cutshall
Design de produção: Kay Lee
Direção de arte: Evan Maddalena
País: EUA
Ano: 2018


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