segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Revisitando Filmes #4 | Charada (1963)


Texto publicado originalmente em 16 de dezembro de 2016
Desde que criei essa coluna, eu já tinha o interesse de rever algum filme estrelado pela Audrey Hepburn e escrever um texto sobre. Para mim Audrey é uma das maiores atrizes do cinema e merece ter sua brilhante carreira conhecida por todos. A maioria das pessoas a conhecem apenas por Bonequinha de Luxo (aliás um dos meus filmes favoritos), porém justamente por esse motivo decidi rever uma obra não tão badalada dentro de sua filmografia para escrever essa quarta edição da coluna.
A primeira vez que assisti Charada foi há pouco mais de 4 anos e já tinha achado um filme tão atemporal, interessante e divertido. Vendo novamente, consegui me encantar mais ainda por ele, mesmo já sabendo de suas reviravoltas, que continuam trazendo sempre algo a mais a cada vez que você assiste ao filme. Mas o que mais torna Charada um filme tão notável é sua dupla protagonista: Audrey Hepburn e Cary Grant. Aliás, este foi o único filme em que os dois contracenaram juntos, isso porque Cary Grant sempre se preocupou com a diferença de idade que poderia aparentar entre os dois. Antes desse filme, eles tiveram a oportunidade de trabalharem juntos em Sabrina, mas Grant decidiu deixar o projeto, já que Audrey conseguia interpretar um papel mais jovem, entretanto, quem substituiu ele foi Humprhey Bogart, que era muito mais velho que Grant. Mas felizmente, ao ler o roteiro de Charada, ele topou filmar e conseguiu uma química maravilhosa com Audrey em cena. Há relatos de que existia um grande respeito e carinho entre os dois e com certeza isso só fez engrandecer o brilho dessa dupla em seus respectivos personagens.
Audrey interpreta Regina Lampert, carinhosamente chamada de Reggie, uma mulher que ao voltar das férias na Suíça e decidida a pedir o divórcio ao marido, descobre que ficou viúva (o marido foi assassinado e jogado de um trem) e que deveria herdar uma quantia de 250.000 dólares, o dinheiro que move toda a trama do filme. Após o funeral, ela descobre que seu falecido marido estava envolvido em transações criminosas e que este dinheiro deveria ser devolvido ao governo americano. Contudo, um grupo de 3 perigosos homens que conheciam o morto desde a época da 2ª Guerra Mundial, começa a caçar esse dinheiro e pôr em risco a vida de Reggie. Para conseguir proteção, ela passa a confiar (e a se apaixonar aos poucos) pelo charmoso Peter Joshua (Cary Grant), um misterioso homem que entrou em sua vida desde seu último dia de férias na Suíça.

Comumente, esse filme é chamado de “o filme de Hitchcock que Hitchcock nunca fez” e, embora concorde parcialmente com essa afirmação, eu não acho que seja inteiramente verdade. Por um lado, há muito mais humor em Charada do que na maioria dos filmes de Hitchcock, por outro lado, ele não possui todos os elementos “hitchcockianos”. Mas o enredo misterioso e cheio de reviravoltas, a abertura enigmática, os ângulos de câmera inteligentes e o elenco especial são sem dúvida elementos a favor de uma comparação. E eu diria que Charada é quase tão genial com a combinação de elenco, roteiro, fotografia, música e estilo visual como qualquer filme de Hitchcock. É preciso elogiar o excelente trabalho do diretor Stanley Donnen e é claro o roteiro de Peter Stone, que foram o alicerce para a construção de um thiller envolvente e é claro divertido.
Uma das coisas que realmente vende um filme para mim é a música. Henry Mancini fez um trabalho fantástico como de costume (ele foi e sempre será um dos maiores compositores de trilhas) capturando todas as emoções e humor do filme, de melancolia e saudade, ao romance, diversão e perigo. Sua pontuação precisa e minuciosa é tudo o que uma trilha sonora cinematográfica deve ser. Pode-se dizer que Mancini ditou o tom do filme, pelo menos em certa medida, da mesma maneira que Bernand Hermann fez com tantos filmes de Alfred Hitchcock.
Agora falando no elenco do filme, não há dúvidas de que Audrey Hepburn foi a atriz certa para interpretar Reggie. Seu carisma combinado com sua vivacidade, deu à personagem um protagonismo incrível. Ela que no início aparenta ser uma personagem mimada, vai ganhando a simpatia do expectador e se mostrando ser dona de sua própria narrativa, mesmo tendo uma espécie de protetor ao seu lado. Bem, a trama consegue ir além disso, fazendo de Reggie uma excelente investigadora e como sua própria personagem diz: “As mulheres são as melhores espiãs do mundo. ” Cary Grant também foi o ator certo para seu personagem. Na pele de Peter Joshua ele envolve o expectador numa atmosfera misteriosa. Isso porque o personagem é essencial no desenrolar das tantas reviravoltas da trama. O elenco coadjuvante também se destaca, desde Walter Matthau (que 30 anos depois foi o inigualável Sr. Wilson em ‘Dennis, o Pimentinha’, um dos filmes que com certeza marcou a infância de muita gente) até James Coburn, que com sua presença e altura ameaçadora interpreta um dos criminosos à procura do dinheiro.

Pra mim foi maravilhoso rever Charada logo no início das minhas férias da faculdade. Não seria uma boa ideia se eu tivesse iniciado as férias com um filme pesado demais. Todo o cansaço que a rotina de estudos proporciona, faz com que você comece seu período de descanso escolhendo bons filmes divertidos, e Charada certamente possui esse atributo. Afinal, nada melhor do que um clássico com elenco e trama tão envolventes e divertidos para espairecer sua cabeça e proporcionar 113 minutos de encantamento pelo que o cinema tem de melhor.
Então é isso, pessoal. Até a próxima edição do ‘Revisitando Filmes’ e em breve estarei com uma nova coluna dedicada às mulheres diretoras, porque o cinema (e a sociedade) ainda precisam valorizar e prestigiar mais o trabalho das mulheres dentro da indústria cinematográfica.

Música tema do filme, composta por Henry Mancini e sua orquestra:

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Drama, Mistério, Thriller
Direção: Stanley Donnen
Roteiro: Peter Stone
Elenco: Audrey Hepburn, Cary Grant, Walter Matthau, James Coburn, George Kennedy, Dominique Minot, Ned Glass, Jacques Marin, Paul Bonifas, Thomas Chelimsky
Produção: Stanley Donnen
Fotografia: Charles Lang
Trilha sonora: Henry Mancini
Figurino: Hubert de Givenchy
Título Original: Charade
País: EUA
Ano: 1963



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