segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crítica de Filme | Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016)


Parece que foi ontem que Harry Potter e as Relíquias da Morte –Parte 2 estava estreando nos cinemas e assim como milhões de fãs pelo mundo, eu também estava emocionada com o fim de uma saga tão especial para uma geração que cresceu lendo e assistindo a jornada de personagens tão maravilhosos criados pela excepcional J.K.Rowling (ou tia Jo, como nós fãs, a chamamos carinhosamente).  E eis que 5 anos depois, lá estou eu novamente numa sala de cinema conferindo uma nova história advinda desse mundo mágico e me sentindo a mesma criança que desde 2001 (ano de lançamento de Pedra Filosofal), se enche de encantamento e fica com os olhos brilhando acompanhando cada momento projetado na telona.
Ninguém tem dúvidas de que a série Harry Potter é uma das mais populares e influentes franquias do cinema. Ao longo de oito filmes, recebeu adoração de críticos e público, bem como dos números em bilheterias e se tornou durante 10 anos o carro-chefe das produções da Warner. Muitos podem pensar que Animais Fantásticos e Onde Habitam foi um filme criado apenas para dar mais dinheiro para os estúdios, entretanto, o filme vai muito além. É claro que a Warner resolveu lançar 5 novos filmes para arrecadar milhões, mas apesar disso e ao contrário de muitos blockbusters configurados como prelúdios e/ou continuações, este filme não é um prelúdio das histórias de Potter e sim uma novíssima história ambientada no mesmo universo, com personagens novos e donos de seus próprios arcos dramáticos. E esse sucesso narrativo só foi possível, é claro, pelo mérito da própria J.K.Rowling, que escreveu o roteiro do filme. Somente ela mesma poderia trazer uma nova história encantadora para as telonas. Um pensamento errôneo comum entre muita gente era que Animais Fantásticos seria uma adaptação do livro homônimo lançado em 2001. Mas quem pensou isso se enganou completamente, já que o livro não traz nenhuma história e sim uma espécie de enciclopédia do mundo bruxo sobre os animais mágicos que existem no mundo. Livro esse, que é citado nas histórias de Harry Potter como um dos livros didáticos usados pelos alunos de Hogwarts.

Ambientando setenta anos antes dos grandes acontecimentos de Harry Potter, Animais Fantásticos e Onde Habitam segue Newt Scamander (interpretado por Eddie Redmayne), um magizoologista (uma espécie de biólogo do mundo bruxo), ex-aluno de Hogwarts e que possui uma mala cheia de criaturas mágicas catalogadas por ele em suas viagens pelo mundo.  Ao chegar a Nova York, Newt encontra alguns novos rostos amigáveis e acaba se envolvendo na descoberta de uma força mágica perversa que aflige a cidade. Bem, não darei mais detalhes da trama  para não contar spoilers que possam estragar a experiência de quem ainda irá assistir ao filme.
Um dos pontos que prefiro falar aqui é justamente a capacidade que o filme possui em combinar a nostalgia e uma nova roupagem para o universo criado por Rowling. Ouvir feitiços já conhecidos como petrificus totalus e alohomora nos dá aquela sensação gostosa de reviver um passeio divertido pelo mundo bruxo, além de ouvir menções a personagens como Dumbledore e a família Lestrange.  Mas a nova roupagem que citei, é o fato de que a jornada de Newt não depende apenas das referências e sim de um arco próprio e independente do personagem. Rowling trouxe a oportunidade de expandir seu universo e provar que ele é riquíssimo e complexo e acima de tudo movido por personagens carismáticos e profundos.
E não é apenas Newt que possui uma história interessante, todos os outros personagens também são protagonistas de seus próprios arcos e dilemas.  Jacob Kowalski (Dan Fogler), um não-maj (o equivalente a trouxa nos EUA; a pessoa que não é bruxo) que logo se torna amigo de Newt, é um personagem que protagoniza a grande maioria das cenas de alívio cômico, contudo, ele é muito mais que isso, carregando um drama pessoal que nos cativa imediatamente, além de nos emocionar numa específica cena durante uma chuva ao final do filme. As irmãs Goldstein, Tina e Queenie (interpretadas por Katherine Waterston e Alison Sudol), completam o quarteto principal e também são duas grandes heroínas para o desenvolvimento do filme. Tina, uma ex-auror da MACUSA (o Ministério da Magia norte-americano), é repleta de coragem, mas também assim como todos nós, possui conflitos que trazem uma identificação aos expectadores. Queenie, uma alegre legilimens (que tem o dom de ler mentes), é uma personagem carregada de empatia e é impossível não amá-la também. Além deste núcleo, outros personagens ganham destaque como Seraphina Picquery (Carmem Ejogo), presidente da MACUSA, Percival Graves (Colin Farrel), o auror da MACUSA que mais se destaca na trama e Creedence Barebone (Ezra Miller), um garoto reprimido que sofre abusos violentos da sua mãe adotiva, Mary Lou Barebone (Samantha Morton). O único núcleo de personagens que não chega a ser aprofundado é a família de Henry Shaw (Jon Voight), o dono de um influente jornal da cidade e cujo filho mais velho é um candidato a senador. Ambos preferem não dar atenção aos mistérios que estão acontecendo na cidade, um fato que apenas o filho mais novo parece estar preocupado.

Um aspecto que fez destaque na franquia Harry Potter foi o desempenho impressionante de seu núcleo jovem ao longo dos anos e de praticamente todo o elenco de atores veteranos. Animais Fantásticos felizmente oferece um grupo igualmente forte de atores. Eddie Redmayne parece ter nascido para desempenhar o papel de Newt, tendo um charme estranho que faz com que o personagem ganhe vida, sem contar a maravilhosa emoção que ele passa nas cenas ao lado de seus animais, em que seus olhos brilham de amor por todas as criaturas. Roubando muitas cenas ao lado dele, está o já citado Dan Fogler na pele do Jacob. A dupla tem uma grande química juntos, sendo um dos grandes destaques de todo o elenco.
Outro grande destaque do longa é o roteiro escrito pela própria Rowling, onde ela traz diálogos ágeis que não precisam ser autoexplicativos para nos situar na trama. Trama essa que, assim como possui momentos leves e engraçados é também carregada de uma subtrama pesadíssima, uma marca que caracteriza Rowling com uma excelente escritora. Em seus livros e agora no seu primeiro roteiro cinematográfico, ela costuma trazer à tona temas relevantes (e atuais) que aprofundam suas histórias. Abuso psicológico e físico, intolerância, preconceito e guerras que estão na iminência de se iniciarem sempre permeiam suas histórias e aqui em Animais Fantásticos não é diferente. E além do peso que esses temas possuem, Rowling traz uma bela mensagem ecológica na relação entre Newt e os animais e é claro a amizade entre os heróis. Se nos filmes de Harry Potter tínhamos o nosso amado trio de ouro, aqui temos um quarteto especial e fantástico (muito mais fantástico que aquele quarteto dos filmes da Fox).

O diretor David Yates, que dirigiu os últimos quatro filmes na série Potter, traz a sua mão segura na direção, capturando cada grandiosa ação bem como cada momento delicado do filme. Os avanços em CGI é outro ponto de destaque nos aspectos técnicos, trazendo efeitos visuais impressionantes de encher nossos olhos, desde os belíssimos animais (que parecem tão perfeitos e reais) à cenários lindos como aquele que vemos dentro da mala do Newt. (Quem aí também queria um Pelúcio e um Picket?!). E o que dizer do excelente trabalho de ambientação para época em que o filme se passa? A figurinista Colleen Atwood (que já ganhou Oscar por Chicago Memórias de uma Gueixa), trouxe figurinos muito bem detalhados e trabalhados para o ano de 1926, priorizando cores frias e acinzentadas, dando verossimilhança ao clima sombrio que o filme possui em muitos momentos bem como a uma sempre nublada Nova York. Além disso, o trabalho de design de produção de Stuart Craig (que trabalhou em todos os filmes de Harry Potter) e de James Hambidge capturam de forma eficaz os prédios e ambientes do fim dos anos 1920. Para fechar os aspectos técnicos, não poderia deixar de mencionar a trilha sonora composta por James Newton Howard, que mesmo ao usar elementos da clássica trilha de John Williams, conseguiu criar uma personalidade própria ao filme. Assim como Hedwig’s Theme nos emocionou durante 10 anos (e ainda emociona), aqui em Animais Fantásticos conseguimos nos emocionar com composições como A Close Friend e Newt Says Goodbye to Tina.

Animais Fantásticos e Onde Habitam é felizmente um retorno bem-vindo ao mundo mágico, sendo divertido novamente e nos emocionando com a jornada de novos personagens carismáticos. O filme com certeza é um deleite para todo fã do universo de J.K.Rowling, mas também agrada aqueles que talvez não acompanharam a jornada de Harry Potter. E o maior sentimento que podemos ter ao sair da sala de cinema é a felicidade. Felicidade por assistir um grande filme com conteúdo e construído com muito carinho e apreço. E para nós fãs potterheads de coração, as várias referências nos deixam com um largo sorriso no rosto e é claro com uma mente pilhando de teorias que podem surgir nos próximos filmes, principalmente devido a uma grande revelação mostrada ao final do filme. E que venham os próximos filmes desse novo e tão fantástico retorno ao mundo bruxo que amamos.

Trailer legendado:

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Aventura, Fantasia
Direção: David Yates
Roteiro: J.K. Rowling
Elenco: Eddie Redmayne, Dan Fogler, Katherine Waterston, Alison Sudol, Colin Farrell, Ezra Miller, Samatha Morton, Carmem Ejogo, Jon Voight, Faith Wood-Blagrove, Josh Cowdery, Ronan Raftery, Ron Perlman, Jenn Murray, Kevin Guthrie
Produção: David Heyman, Steve Kloves, J.K. Rowling                                                                             Fotografia: Phillippe Rousselot                                                                                                             Trilha sonora: James Newton Howard                                                                                                     Figurino: Collen Atwood                                                                                                                           Design de produção: Stuart Craig, James Hambidge  



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