terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Revisitando Filmes #1 | A Rosa Púrpura do Cairo (1985)


Há um tempinho atrás decidi criar uma coluna especial com o objetivo de comentar filmes que de uma forma representam algo para mim e me fizeram ser aos poucos essa pessoa sempre sedenta por obras cinematográficas. E aqui estou finalmente colocando esta ideia em prática e a partir de hoje sempre que eu puder, publicarei na coluna “Revisitando Filmes” textos sobre filmes que me trouxeram a vontade de revê-los. Estarei revisitando obras de vários gêneros bem como de várias épocas e escrevendo sobre eles não como uma resenha crítica, mas sim como uma contemplação, destacando o que cada filme trouxe de especial para esse grande coração cinéfilo.
E para começar essa coluna, escolhi um dos meus filmes favoritos de um dos meus diretores favoritos: “A Rosa Púrpura do Cairo”de Woody Allen.
Este é um dos filmes de Allen que pra mim é um dos mais encantadores. Desde sua narrativa metalinguística recheada de homenagens ao cinema e com sutis críticas sociais até à excelente mistura entre fantasia e realidade.
A Rosa Púrpura constrói uma ponte entre a ficção e a realidade, nos fazendo refletir sobre o poder que a sétima arte possui sobre nós. Allen dedica todo o seu amor pelo cinema através desta obra, mostrando o quão magnífico é este tipo de arte como também essa mesma arte às vezes não nos satisfaz por completo, por mais bela que seja, fazendo com que nós precisemos de tempos em tempos consumi-la para nos satisfazer e tentar fugir da nossa rotina.
Neste filme vemos a bela história de amor entre uma mulher e seu filme favorito. Por mais que ela seja apaixonada pelo protagonista, seu amor mesmo está no filme que ela tanto assiste. Para escapar de sua vida pacata, ela necessita de várias doses desse encantamento que o filme proporciona. A personagem em questão é Cecília, interpretada magistralmente por Mia Farrow, a musa de Allen na época. E A Rosa Púrpura é mais um grande filme em que ela brilha em cena.

Além da magia que o cinema proporciona à Cecilia, o cinema também se configura como o perfeito escapismo para o cenário em que ela vive. Durante os anos 30, em meio à Grande Depressão norte-americana, Hollywood trazia a magia do cinema que consolava e encantava a sociedade. E vemos justamente isso ao acompanharmos a história de amor entre Cecília e o cinema. Os clássicos musicais traziam figuras como Fred Astaire e Ginger Rogers em cenários glamorosos que inebriavam seus espectadores. Trazer esse grande contraste para A Rosa Púrpura é um feito brilhante de Woody Allen.
 Além da Grande Depressão, Cecilia sofre também com um marido violento e com o cansaço rotineiro do seu trabalho como garçonete. Em uma das suas fugas ao cinema para ver seu filme favorito pela quarta vez, Cecilia se depara com um acontecimento inesperado. O personagem principal do filme, Tom Baxter, sai da tela de cinema literalmente para falar com Cecilia. Ele que no filme é um grande explorador e aventureiro do Egito e que está participando de uma luxuosa festa no Copacabana, se encanta com o fato de Cecilia estar mais uma vez assistindo ao seu filme e decide se encontrar com ela fora da telona. A sua paixão por Cecilia é à primeira vista e a partir daí ele abandona seu filme no meio da projeção para se aventurar com Cecilia no mundo real, deixando os outros personagens indignados com essa atitude. É realmente engraçado ver as reclamações deles sobre a fuga de Tom. Essa dinâmica do filme dentro do filme é outro ponto maravilhoso da trama de A Rosa Púrpura. E aqui vemos muito mais do que a quebra da quarta parede.


Juntamente com Mia Farrow, quem também brilha em cena é Jeff Daniels. A sua performance é cativante uma vez que ele interpreta Tom Baxter e o ator que interpreta Tom, chamado Gil Shepherd. Mas é como Tom que percebemos a sutileza da sua atuação. Há uma cena romântica entre Tom e Cecilia onde ele se surpreende com o fato de que na vida real não existe fade out após um beijo. No mundo real, não há esse tipo de recurso no momento do beijo que pode anteceder uma relação sexual. A surpresa de Tom é cômica e ao mesmo tempo cativante.
Contudo o que mais nos cativa e emociona nesse filme é o contraponto entre fantasia e realidade, o dilema que passa a afligir Cecilia. A partir do momento em que ela é cortejada pelo personagem e pelo ator, ela se vê na dúvida crucial entre duas oportunidades de conseguir fugir da sua vida sofrida. Uma ao lado de Tom, onde ela pode cruzar o oceano e se aventurar com ele em grandes histórias dentro dos filmes; e a outra ao lado de Gil, que pode leva-la para viver em Hollywood. Essa é a grande metáfora de A Rosa Púrpura do Cairo. Nós somos como Cecilia. Amamos o cinema e toda a magia que ele nos proporciona, seja como um escapismo seja como uma devoção a essa arte.
Assim como “Clube do Cinco” (filme que teve crítica postada essa semana aqui no site pela Camila), “A Rosa Púrpura do Cairo” também completou 30 anos este ano e também é uma obra atemporal que traz questões atuais.

Filmes marcantes são justamente aqueles que se assistidos hoje ou daqui a 10, 20, 30 anos continuam trazendo temas que mexem no seu âmago e fazem você refletir sobre tudo que está a nossa volta. E pra mim, A Rosa Púrpura do Cairo é um desses filmes.

 TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Título original: The Purple Rose of Cairo
Gênero: Comédia, Drama, Romance
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Mia Farrow, Jeff Daniels, Danny Aiello, Irving Metzman, Stephanie Farrow, Dianne Wiest, David Kieserman, John Wood, Deborah Rush, Edward, Herrmann, Van Johnson
Produção: Robert Greenhut
Trilha Sonora: Dick Hyman
Fotografia: Gordon Willis
Duração: 82 min.
Ano: 1985
País: Estados Unidos



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