sábado, 28 de janeiro de 2017

Retalhos: Almas em Versos, de C. B. Kaihatsu e Natasja Haia, com ilustrações de Michele Borges

Retalhos: Almas em Versos, de C. B. Kaihatsu e Natasja Haia, com ilustrações de Michele Borges
Retalhos: Almas em Versos, das escritoras C. B. Kaihatsu e Natasja Haia é um livro de poesia, publicado em agosto de 2016, na Bienal do livro de SP. As autoras, que se conheceram após participarem da antologia “O Corvo: Um livro colaborativo”, editora Empíreo (2015), decidiram publicar esta obra em dupla. Para mim, enquanto leitor, uma decisão acertada, pois ao adquirir Retalhos: Almas em Versos, na verdade estou obtendo dois livros em um: a primeira parte temos o livro de C. B. Kaihatsu, com trinta e cinco poemas e na segunda parte, o livro de Natasja Haia, com outros trinta e cinco textos. A obra conta ainda com belas ilustrações, dezoito no total, que fica por conta de Michele Borges.
É possível perceber o estilo de cada uma das autoras, mesmo que o trabalho se construam em temas que dialogam entre si como a fugacidade da vida, o amor, a solidão, a preocupação social, o cotidiano, a importância de entes queridos, a metalinguagem...
“Mas o que é um poema?
Eu pergunto-lhe, meu caro amigo.
Será que são rimas?
Ou métrica perfeita?
Palavras difíceis?
[...]
Um poema, meu bom amigo, é uma extensão da alma.
Que tem vida própria.
Que sente e me faz sentir”.
Trecho de do poema Metalinguagem, de C. B. Kaihatsu

Os versos livres, o fazer poético...
“Você tenta escrever tudo certinho
Acha atraente ser assim tão engomadinho.
[...]
Eu gosto mesmo é da
Bagunça,
Da falta de métrica, da incoerência”.
Trecho do poema Para uma alma livre: versos livres, de Natasja Haia

Eu-líricos inquietos e questionadores, que vão trabalhar com as impossibilidades, as saudades dos sonhos não realizados, de algo não vivido, mas que está ali, em algum lugar entre a voz e o silêncio do texto:
“Sinto saudades de uma época em que não vivi.
Mas que vive em minha alma.
Dos sonhos não realizados.
Concretos na minha mente”.
Trecho de do poema Nostalgia, de C. B. Kaihatsu
“Às vezes tudo começa
Com um risco do ócio
Em um pedaço de papel que sobrou
No sobrado de algum poeta
Com uma caneta por perto
E uma inquietude por dentro”.
Trecho do poema Para uma alma livre: versos livres, de Natasja Haia


 Dos poemas de C. B. Kaihatsu que mais me chamaram a atenção pela beleza e qualidade estética e textual, além dos já mencionados Metalinguagem e Nostalgia, gostei muito do ‘Vicent’, um intertexto com o pintor holandês Vicent Van Gogh, maior expoente do pós-impressionismo (Os girassóis amarelos aquecem a alma.); do poema ‘ESTRELA Dalva’, uma linda homenagem que a escritora faz à sua mãe (Estrela Dalva. / Das primeiras horas. / Mãe.); ‘Acróstico maternal’, que traz uma bela ilustração de uma mulher grávida com um coração no ventre; ‘[Entreato]’, a brevidade da vida e a possibilidade de transcender mesmo que na imaginação (Quero vivê-la em toda sua apoteose. / E aproveitá-la em sua brevidade.), na literatura; ‘Terra do Nunca’, que mostra a beleza de ser criança e a vontade de voltar a ser, pois o adulto é preso em suas obrigações, problemas, enquanto a criança é livre, pois Peter Pan podia voar e o adulto está preso em amarras quase sempre criadas por ele mesmo, o que podemos ver também no belo poema ‘Antinomia’ (Liberdade forjada. / Cativeiro concreto) e ‘Menina Liberta’ (Queria poder ser criança de novo. / Para viver como uma menina liberta.); o poema ‘Somos Marias’, faz uma homenagem a todas as Marias – mulheres –, que trazem em comum as suas dores, as suas lutas e também as suas alegrias; e o poema ‘Dançante’, um texto bem visual, que mostra a arte da dança e a de saber dançar com as palavras (Cinco, seis, sete, oito. / O meu corpo toma forma), um corpo em movimento, um corpo que tem linguagem própria, que conta histórias e faz poesias – Kaihatsu, além de escritora, é bailarina profissional, acredito que por isso tenha conseguido registrar ambas as artes de forma tão bela nesse texto, meu preferido.



Agora, além do já citado ‘Para uma alma livre: versos livres’, outros títulos dos poemas de Natasja Haia que mais gostei: ‘Sr. Brasil’, belo poema que registra as riquezas do nosso país, os nossos costumes e cultura, tudo com sentimento e alma de poeta; ‘Imergindo’, mostra o engessamento do ser humano, que não tem tempo de viver e, por isso, ele apenas observa a vida, porém o eu-lírico se manifesta esperançoso e busca conforto no lugar mais inapropriado (Eu escrevo a desesperança / Na esperança, porque eu sei / Que mesmo em meio / A todo esse caos / Há amor) e vai falar da arte, do dom peculiar do poeta de ver as coisas diferente; ‘Fugacidade’, um poema breve de apenas seis versos, próprio pra discorrer sobre a fugacidade da vida, que é breve e nós somos frágeis como um galhinho de árvore e podemos nos quebrar a qualquer momento; ‘Segredos de Zâmbia’, quando o escritor imerge no mundo das ideias e se ausenta do mundo real, raramente é compreendido pela maioria das pessoas, porém ele sabe disso e mesmo assim prefere permanecer o máximo que puder em sua abstração e ser a poesia que surge como chama (Ela pousou sobre um vulcão / Tornou-se o fogo); Velório da utopia’, quando o sonho é esmagado pela realidade; ‘Grito do viaduto’, um belo poema, que mostra uma criança que vivia uma vida comum e normal e por causa dos percalços da vida, agora uma pessoa adulta, acaba por habitar de baixo de um viaduto, sendo confortada pela arte, uma flor desenhada no muro, a dor transformada em poesia; ‘Desencarnados’, uma homenagem a vários escritores como Machado de Assis, Clarice Lispector e Gregório de matos; e ‘Clemência em demência, que mostra um eu-lírico indignado pelo fato de pouco se fazer para aplacar a fome dos necessitados.
As ilustrações de Michele Borges é mais um ponto forte do livro, um trabalho artístico que não interfere ou representa diretamente os textos, é claro que as imagens foram inspiradas nos poemas, mas elas têm vida própria e, assim como a poesia do livro, essas almas em retalhos que se constroem, desmancha e reconstroem em versos, as imagens também estão ali para nos fazer pensar.

Retalhos: Almas em Versos é um ótimo livro. Recomendo, sobretudo para os de corações inquietos.
Sinopse:
Retalho é um pedaço que se retira de um todo, parte de alguma coisa que foi fragmentada. Assim é a nossa vida, uma coleção de retalhos num apanhado de memórias. Somos versos diários tecidos nas páginas de uma história que não termina. Retalhos: Almas em Versos é isso um apanhado de sentimentos, com poemas sobre a vida, a condição humana e as mazelas sociais. Como o título sugere, cada verso leva um pouco do sentimento das autoras. Os traços da ilustradora fazem a junção dos pedaços, costurando, junto com as letras, a alma da obra.

Dados Técnicos
Autoras: C. B. Kaihatsu e Natasja Haia
Ilustradora: Michele Borges
ISBN: 9788567191225
Número de Páginas: 120
Número Edição: 1
Ano Edição: 2016
Editora: Empíreo

C. B. Kaihatsu
Natural de Campinas e paulinense de coração. C. B. Kaihatsu é escritora, poetisa, bailarina clássica e de jazz, engenheira de controle e automação e colunista cultural do Jornal Tribuna de Paulínia e do site CultEcléticos.
Participou em 2015 da antologia ‘O Corvo: Um livro Colaborativo’ pela editora Empíreo. Em 2016, lançou o livro de poemas ‘Retalhos: Almas em Versos’ na 24ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, também pela editora Empíreo.
Em 2017, terá um conto publicado na antologia ‘Mais Amor, Por Favor!’ da editora Coerência.

Natasja Haia
Natural de Manaus, participou de ‘O Corvo: Um livro Colaborativo’ pela editora Empíreo (2015). Colaborou com Onde Passo?, uma exposição fotográfica realizada pela prefeitura de Manaus. Tem um poema e uma fotografia selecionados nos concursos nacionais Novos Poetas e Novos Fotógrafos, 2016, da Vivara Editora Nacional.

Michele Borges
Nasceu em Campinas, mas atualmente reside em Paulínia. ‘Retalhhos: Almas em Versos’ é sua primeira participação como ilustradora em uma obra impressa.

Para adquirir a obra Retalhos: Almas em Versos CLICK AQUI e entre em contato com C. B. Kaihatsu em sua página no facebook .
Também no SUBMARINO.


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