sábado, 28 de janeiro de 2017

Encartes Poéticos: Legião Urbana – 20 anos sem “Renato Russo”

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Ao iniciar esta pequena homenagem àquele que foi e, mesmo após vinte anos de sua morte, continua sendo o maior poeta do rock brasileiro, surgiu-me algumas dúvidas sobre como começar a falar do Renato Russo e da Legião Urbana: se eu deveria escrever de forma objetiva ou partir para uma linha mais particular? Que título dar ao texto: Encartes Poéticos: Legião Urbana ou 20 anos sem “Renato Russo”?  E, de repente, partindo desses questionamentos, encontro a solução: aproprio-me dessas mesmas dúvidas, antes que elas de mim se apropriem, e, nesse instante, já não pertenço a elas, jogo-as no texto, e elas já não pertencem a mim, são de todos. Pois, tive meus motivos pra deixar tudo como está.
Sendo assim...
Reza a lenda que no dia 11 de outubro de 1996, dia da morte de Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, um dos maiores nomes do Rock Brasileiro – para mim: o maior, indiscutivelmente –, a matéria pronta para ir ao ar no Jornal Nacional, e que contava com mais de dez minutos de duração, foi contestada, pois Lillian Witte Fibe, que era uma das apresentadoras do telejornal, achou que não necessitava de tanto tempo assim, que poderia ser feito alguns cortes. Já Willian Bonner, por sua vez, voltou-se para a companheira de trabalho, e editora chefe do telejornal, e começou a cantar ‘Faroeste Caboclo’, um mega sucesso da banda, que tem quase dez minutos de duração.
Resultado: não houve mais discussão e a matéria foi ao ar na íntegra.
Você pode ver a reportagem no youtube. Está dividida em duas partes um e dois. Uma parte antes e outra após os comerciais. A matéria fala da morte e carreira do cantor e compositor e traz alguns comentários de amigos, artistas e familiares do Renato.
Quando conheci o trabalho da Legião Urbana, a banda já havia lançado quase todos os seus discos. Embora eu sempre ouvisse sucessos como ‘Será’, ‘Ainda é cedo’, ‘Que país é este’, entre outras canções que eram tocadas frequentemente nas rádios, eu não me ligava a que artista ou banda essas músicas pertenciam, pois eu conhecia apenas os cantores que apareciam na TV, sobretudo em programas dominicais, e, salvo raras exceções, a Legião Urbana não costumava se apresentar em tais programas.
E, desse mondo, foi apenas em 1993, através de um amigo de sala, o Marcão (estávamos na 7ª Série do Ensino Fundamental), que descobri quem era o dono da voz e daquelas letras de músicas sensacionais, poéticas, que traduzia nossos sentimentos e ainda contava histórias fantásticas...
Estávamos reunidos entre uns cinco ou seis alunos e me lembro de que um deles perguntou: “Marcão, você ainda lembra a letra de ‘Faroeste Caboclo?’ e ele respondeu: “Lembro!” “Canta pra gente?”, pediu o aluno. E o Marcão cantou:
Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu [...]
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Fiquei impressionado com a letra. Perguntei a ele quem cantava e... Foi aí que o nome Legião Urbana passou a fazer parte do meu universo.
Chegando em casa, eu conversei com a minha irmã, a Inês, que é alguns anos mais velha que eu, e pedi para ela comprar uma fita para mim.
“Fita de quê?”
“De música.”
“Que legal! A primeira vez que me pede uma fita! De que cantor?”
“Legião Urbana. Conhece?”
“Sim. Têm ótimas músicas.”
Ela me deu o dinheiro e, para minha felicidade, deu para comprar três fitas: ‘Que Pais É Este’, ‘As quatro Estações’ e o recém-lançado ‘O Descobrimento do Brasil’. Eu ficava ouvindo aquelas fitas o dia inteiro.
Mas, foi só em 96, ano da morte de Renato Russo, que comprei um aparelho de som que tocava CD e descobri então os encartes com as letras das músicas, encartes que eu lia cada um como se estivesse lendo um livro de poesia, porque era isso que os álbuns da banda eram para mim, eles me davam a mesma sensação que hoje tenho quando leio livros de poemas dos escritores que mais gosto, quando os textos dialogam comigo.
Não queria te ver assim / Quero a tua força como era antes / O que tens é só teu, e de nada vale fugir / E não sentir mais nada’ [...] Eu sei é tudo sem sentido / Quero ter alguém com quem conversar / Alguém que depois não use o que eu disse /Contra mim (Andrea Doria).
Não vou me deixar embrutecer / Eu acredito nos meus ideais / Podem até maltratar meu coração / Que meu espírito / Ninguém vai conseguir quebrar (Um Dia Perfeito).
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O amor é o fogo que arde sem se ver; / É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente; / É dor que desatina sem doer (Monte Castelo).
Foi por causa da letra de ‘Monte Castelo’, letra em que Renato utiliza o ‘Soneto 5’ de Luís de Camões, que comprei o primeiro livro de poesia: ‘Sonetos’ e, na sequência, ganhei ‘Os Lusíadas’, outro clássico de Camões, de presente de amigo secreto.
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Nos encartes, chamava-me também a atenção as narrativas, as letras das músicas que contam uma história com começo, meio e fim, sendo as mais famosas a já citada ‘Faroeste Caboclo’, ‘Eduardo e Mônica’ e ‘Dezesseis’.
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É claro que após conhecer o trabalho do Renato e da Legião, fui conhecendo outras grandes bandas e artistas do rock nacional e internacional, bem como depois de Camões, conheci outros grandes poetas, que também vieram a me influenciar, mas sei que o começo de tudo está ali, nos Encartes Poéticos da Legião Urbana.
E por falar em música e literatura, acaba de ser lançado um livro escrito por Renato Russo quando ele tinha apenas 15 anos, o The 42nd St. Band: Romance de Uma Banda Imaginária, Entre os quinze e os dezesseis anos, enquanto convalescia de epifisiólise (rara doença óssea), Renato Russo - à época, ainda chamado Renato Manfredini Jr., em Brasília - criou a história de um grupo de rock formado em 1974, em Londres, a partir do encontro de ícones como Mick Taylor, dos Rolling Stones, e outros roqueiros imaginados pelo futuro líder da Legião Urbana.
Da origem à separação da banda, passando por momentos de sucesso astronômico, Renato pensou em cada detalhe. A partir do personagem Eric Russell, figura central da 42nd St. Band, nasceria Renato Russo, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, que tem, portanto, sua gênese revelada neste estrondoso romance inédito. 
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E, para encerrar, deixo um trecho de uma de suas letras mais poéticas:
E é só você que me provoca essa saudade vazia / Tentando pintar essas flores com o nome / De "amor-perfeito" / E "não-te-esqueças-de-mim" (Acrilic on Canvas).

Banda: A Legião Urbana era formada inicialmente por Renato Russo, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha (nos três primeiros discos). A partir do quarto álbum Renato Rocha não faria mais parte da banda.

Dicografia da Legião Urbana:
1985 - Legião Urbana; 1986 – Dois; 1987 - Que País É Este 1978/1987; 1989 - As Quatro Estações; 1991 – V; 1992 - Música para Acampamentos; 1993 - O Descobrimento do Brasil; 1996 - A Tempestade ou O Livro dos Dias; 1997 - Uma Outra Estação; 1998 - Mais do Mesmo; 1999 - Acústico MTV (Gravado em 1992); 2001 - Como É que Se Diz Eu Te Amo (Gravado em 1994); 2004 - As Quatro Estações ao Vivo (Gravado em 1990); 2006 - Renato Russo - Uma Celebração; 2009 - Legião Urbana e Paralamas Juntos (Gravado em 1988); 2011 – Perfil; Legião Urbana 30 Anos.

Discografia de Renato Russo:
The Stonewall Celebration Concert (1994); Equilíbrio Distante (1995); O Último Solo (1997); O Trovador Solitário (2008).

Renato Russo, nome artístico de Renato Manfredini Júnior (27 de março de 1960 - 11 de outubro de 1996), foi um cantor e compositor brasileiro, vocalista e fundador da banda de rock Legião Urbana.  Antes de fundar o grupo, Renato integrou o grupo musical Aborto Elétrico.
Renato morreu devido as complicações causadas pelo HIV em 11 de outubro de 1996, na época com 36 anos. Como integrante da Legião Urbana, Renato lançou oito álbuns de estúdio, cinco álbuns ao vivo, alguns lançados postumamente. Gravou ainda três discos solo.
Biografia adaptada e resumida da wikipedia.

* Postagem publicada originalmente em 7 out, 2016.

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