terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Especial Charles Dickens: “Cântico de Natal” e “Os Carrilhões”


Em clima de Natal, o CultEcléticos preparou algumas matérias especiais para comemorarmos este fim de ano com o leitor. E o Especial Charles Dickens: Cântico de Natal e Os Carrilhões é uma delas.
Boa leitura!
Charles Dickens (1812-1870) é autor de diversas obras primas da literatura universal como ‘Grandes Esperanças’, ‘David Copperfield’, ‘Oliver Twist’, ‘Cântico de Natal’, entre outros títulos de grande sucesso. Dickens, é muitas vezes apontado como o maior romancista inglês de todos os tempos. Dono de uma vasta obra, o autor se destaca principalmente no romance e no conto, ao aliar em seus textos a fantasia e o mistério com personagens tão próximo da realidade do leitor com retratos da alma humana e sua essência. É constante em sua obra uma poderosa crítica social, o que o faz dialogar também com as escolas realistas.
O Natal é outro tema recorrente em sua obra. Para este especial foram escolhidos ‘Cântico de Natal’ e ‘Os Carrilhões’. O primeiro, mais conhecido do grande público, muitas vezes com o título de “Um Conto de Natal’, dependendo da tradução, foi adaptado para diversas mídias como cinema, TV, HQ, teatro, de forma que a maioria das pessoas conhecem a história do solitário e avarento senhor Ebenezer Scrooge, um homem muito rico financeiramente, mas que é pobre de alma, e é conhecido principalmente por odiar o Natal e suas festividades, a alegria e o espírito de bondade que a data proporciona e de certa forma acaba atingindo os corações das pessoas, que geralmente são mais solidários nessa época do ano. Para o protagonista de ‘Cântico de Natal, tudo isso é bobagem, é só mais um dia onde as pessoas têm uma desculpa para matar o trabalho. Mesmo com tanto dinheiro sobrando, ele se nega a colaborar com as doações para o fim de ano dos mais necessitados.
Embora não se trate de nenhuma novidade e, até por isso se torna mais difícil falar desse texto, acredito que obras universais como as de Dickens, com personagens tão ricos em suas construções, sejam inesgotáveis, pois sempre é possível redescobri-las e ser novamente arrebatados por elas não importando quantas leituras fizermos da mesma.
Li ‘Cântico de Natal’ na minha adolescência, o li novamente em 2013, e agora em 2016 para fazer esta resenha. Confesso que que em todas elas eu senti um pouco de medo quando os fantasmas aparecem na história: primeiro do seu ex-sócio, o Marley, depois dos fantasmas do Natal Passado, do Natal Presente e do Natal Futuro. O objetivo dessas visitas é fazer com que Scrooge mude de comportamento e se torne um homem bom. Em particular, foi a leitura de 2013 que mais mexeu comigo, pois era 24 de dezembro, véspera de Natal, e o enredo do livro se passa nessa data. Mas não só por isso, é importante ressaltar também que em 2013 eu estava morando sozinho e estava a pé e longe de qualquer conhecido, tinha trabalhado o dia inteiro e decidi pegar um livro na estante apenas para começar a ler e dormir, pois não iria mesmo a lugar algum. No entanto, eu já havia me esquecido de como Dickens nos faz ficar presos em seus enredos, e com a leitura deste livro não veio o desejado sono, pelo contrário: eu mergulhei completamente nas páginas do conto e só o larguei quando terminei de ver a transformação pela qual o empresário e avarento Ebenezer Scrooge havia passado.
Na verdade, penso que não fui eu quem escolheu o livro naquele dia, mas ele é quem me escolheu para mostrar novamente que  o Natal, bem como o fim de ano, é tempo de pensarmos em nossas vidas, o que precisa ser mantido e o que deve ser mudado para nos tornarmos pessoas melhores. Vejo esses espíritos como metáfora dos nossos próprios pensamentos, nossas indecisões, nossos planos. Estamos a todo os momentos relembrando o passado, projetando o futuro e esquecendo do presente. E acredito que se programarmos para sermos um pouco melhor a cada ano, nós não perdemos nada por isso. Se eu pensar que já sou bom o bastante no meu trabalho, a chance de eu melhorar é nula, se eu achar que já faço o bastante pelos outros, não terei a chance dar o meu melhor.
Scrooge achava que por pagar impostos já fazia o suficiente, porém ele descobre que não é apenas possível, mas sim necessário fazer um pouco mais pelo próximo.
Outro personagem importante do livro é o sobrinho do senhor Scrooge, que, ao contrário do tio, é um homem bom de coração e que ama o Natal. É ele quem aparece para contrastar o protagonista no inicio da história:
                 – Bom Natal, meu tio! E que Deus o ajude! – exclamou uma voz jovial.
[...]
            – Tolice! Tudo isso são bobagens!
[...]
            – Natal, uma bobagem, meu tio? Parece que o senhor não refletiu bem!
            – Ora! - disse Scrooge. – Feliz Natal! Que direito tem você de estar alegre, pobre do jeito que é?
            – E o senhor – respondeu alegremente o sobrinho –, que direito tem de estar triste? Que razão tem o senhor de estar acabrunhado, rico como é?
Um fato importante do livro, o qual se deve também pela qualidade literária da obra, é que a transformação do protagonista não acontece de forma forçada, ou sem base, há todo um questionamento que os fantasmas trazem para esse homem, que o faz pensar e repensar toda a sua vida. Ou seja, a bondade não é transmitida a ele ou simplesmente colocada de uma hora para outra no texto, foi preciso que Scrooge a vivesse e sentisse na pele e na alma o quanto poderia ser devastador para si se continuasse a ser como antes.


 Já em ‘Os Carrilhões’, Charles Dickens, nos apresenta a história de Toby Veck um senhor muito pobre, porém, de espírito nobre. Apesar da sua condição financeira desfavorável, Troty, como é conhecido o protagonista, por causa do seu jeito peculiar de andar, ganhava a vida como moço de recado, mostra-se pronto para ajudar e acolher os necessitados como faz com Will Fern e sua filhinha Lily. Troty, também tem uma filha, a Meg, que é muito amada pelo pai e que pretende se casar com Richard no dia de Ano Novo.

            “Embora fraco, pequeno e magro, o velho Toby era um verdadeiro Hércules nas intenções”

            Acho genial essa comparação que o autor faz para definir o seu personagem.

Aqui, a crítica social é fortemente representada pelo contraste entre as classes mais abastadas, que vivem no luxo, e as menos favorecidas onde até as crianças trabalham para poder se sustentar. A corregedoria corrupta exige tanto dos pobres, a classe operária, ficando o trabalhador com o mínimo possível para se manter, porém sem conforto algum, com escassez de comida, doentes e sem perspectiva de vida.

            “ – Não há nada – disse – que chegue com mais regularidade do que a hora do jantar, e nada menos regular do que o próprio jantar”.

Toby é fascinado pelos carrilhões (conjunto de sinos com os quais se tocam peças de música) e acredita haver algo de semelhante entre ele e os sinos.

             “pois os sinos eram os seus companheiros; e quando lhes ouvia as vozes, olhava com interesse para as aberturas onde eles pendiam, pensando no modo como se movimentavam e quais os martelos que os percutiam. Talvez a sua curiosidade pelos sinos se devesse, especialmente, à semelhança que havia entre eles e sua própria pessoa”.

A história se divide em quatro partes: Primeiro quarto de hora, Segundo quarto de hora, Terceiro quarto de hora e Quarto quarto de hora. Confesso que não me agradei logo de início, diferente de ‘Cântico de natal’, ‘Os Carrilhões’ demorou um pouco mais para me prender, talvez pela necessidade de o autor precisar expor logo de cara tantos personagens e descrever suas profissões e o que fazem para ganhar a vida já com o intuito de nos apresentar a que classe social pertencem, para nos oferecer o contraste em que o enredo se sustenta. Porém, mesmo não tão empolgante no início, o leitor se apega aos cativantes personagens, como a Meg, Will Fern, e o próprio Tob Veck, pela aproximação que eles têm da nossa realidade. A crítica que o autor faz da sociedade inglesa do século XIX, dada as suas proporções, é relevante até os dias de hoje. Também por isso a sua literatura permanece tão atual.

Mas é no Terceiro quarto de horas que a narrativa se torna extremamente empolgante, e começamos a ter grandes surpresas. Trotty ouve os carrilhões o chamarem e ao seguir esse chamado descobrirá os seres que habitam os sinos que farão grandes revelações a ele. Eu confesso que chega a ser assustador em algumas partes a partir desse momento. Mas não direi muito mais a respeito da obra, pois ‘Os Carrilhões’ não é um texto tão conhecido como ‘Cântico de Natal’, e nunca devemos estragar as surpresas do leitor.


Encerro este trabalho com as palavras do mestre da ficção:


“E, assim, possa o Ano Novo ser um ano feliz para vós e para muitos outros cuja felicidade depende de vós! E, assim, que cada ano seja mais feliz que o anterior, e que os mais humildes dos nossos irmãos não sejam privados do legítimo quinhão de felicidade que Deus lhes destinou”.


Charles Dickens


Dados da obra:

ISBN-13: 9788572322928
ISBN-10: 8572322922
Ano: 2004 / Páginas: 183
Idioma: português
Editora: Martin Claret

Sinopse:

Os historiadores de literatura consideram Charles Dickens uma figura proeminente no romance inglês do século XIX, chegando mesmo alguns a apontá-lo como o maior romancista que a Inglaterra já produziu. Sua obra, impregnada de mistério, é aparentada com o romance gótico e constitui um vasto painel melodramático da Londres industrial de 1830-1850. Entre romances e contos, Dickens escreveu várias obras-primas. Sua postura essencialmente sentimental expressou-se com muita nitidez em seus contos de Natal. Cântico de Natal (1843) e quase um conto de fadas; tornou-se parte integrante da mitologia natalina anglo-saxônica. Outro texto de Dickens sobre a mesma temática é Os Carrilhões (1845), incluído neste volume.


Charles Dickens:

Charles John Huffam Dickens foi o mais popular dos romancistas da era vitoriana e contribuiu para a introdução da crítica social na literatura de ficção inglesa. A fama dos seus romances e contos pode ser comprovada pelo fato de todos os seus livros continuarem a ser editados. Entre os seus maiores clássicos destacam-se "Oliver Twist", "A Christmas Carol" e "David Copperfield".

Em 1843, publicou o seu mais famoso livro de Natal, "A Christmas Carol", ao qual se seguiriam outros, como "The Chimes" (1844), que escreveu durante uma viagem a Gênova e "O Grilo da Lareira" (1845). Em 1849 publicou um de seus mais conhecidos romances, "David Copperfield", inspirado em grande parte, na sua própria vida. Aos poucos sua obra se tornou mais crítica em relação às instituições inglesas. Seguem esta linha os seus livros "Assim São Dombey e Filho" (1847), "A Casa Sombria" (1852) e "Tempos Difíceis".

Dickens escreveu ainda "História de Duas Cidades" (1859), "Grandes Esperanças" (1861) e "Nosso Amigo Comum" (1864). Nos últimos anos de sua vida iniciou o livro "O Mistério de Erwin Drood", mas morreu antes de concluí-lo.


Fonte: Wikipedia


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