Crítica de Filme | O Regresso (2015)

Histórias de sobrevivência são sempre atraentes. A curiosidade pelo modo como algum personagem consegue sobreviver a condições extremas tem encantado o público há décadas. E os filmes foram inventados para contar histórias incríveis, sejam realistas ou fantasiosas, destacando sentimentos como alegria, desespero, raiva, tristeza e muitas vezes, vingança.

Misturando elementos do gênero western com uma angustiante história de sobrevivência e vingança, constrói-se O Regresso (The Revenant). Dirigido pelo mexicano e vencedor do Oscar ano passado, Alejandro González Iñarritu, o filme é uma livre adaptação do romance escrito por Michael Punke em 2002, sobre a verídica história do explorador norte-americano Hugh Glass, interpretado por Leonardo DiCaprio.

Em meados dos anos 1820, depois de ser terrivelmente atacado por um urso, Glass “conta com a ajuda” de membros do grupo de caçadores de pele da qual ele faz parte para seguir sua caminhada ao lado de seu filho Hawk (um índio mestiço da tribo Pawnee e vivido por Forrest Goodluck) para as florestas cobertas de neve. Dificultado pela traição do colega John Fitzgerald (vivido por Tom Hardy), que o deixa para morrer e ainda mata seu filho, Glass luta para permanecer vivo.  Apesar de sua luta pela sobrevivência estar repleta de perigos, ele está determinado a desafiar todas as dificuldades com olhos sedentos de vingança.

Embora a excelente atuação de Leonardo DiCaprio seja a estrela do filme, o seu verdadeiro apelo reside na câmera de Iñarritu (em alguns momentos exagerada demais) e no trabalho impecável do diretor de fotografia Emmanuel Lubezki.  Iñarritu abraça completamente a paisagem do Oeste americano (mas filmado no Canadá e na Argentina) em que Hugh Glass se encontra. Os campos abertos aumentam a imensidão e o perigo daquele ambiente inóspito e selvagem, mas também chamam a atenção para takes belíssimos de uma natureza praticamente intocada e sagrada. Lubezki que já trabalhou com o diretor Terrence Malick, é conhecido por utilizar sua lente captando paisagens incríveis nos filmes de Malick (A Árvore da Vida, Amor Pleno) e agora ao lado de Iñarritu ele repete com maestria essa capacidade de filmar imagens que poderiam perfeitamente ser emolduradas.

E é essa natureza incrível que vai moldando a jornada de Glass, transformando-o num verdadeiro ser animalesco que luta por sua sobrevivência e desse modo renasce para cumprir sua vingança contra o homem que assassinou seu filho. A cena em que ele se protege do frio dentro de um cavalo morto é uma bela metáfora de seu renascimento.

DiCaprio investe numa performance genuinamente intensa, onde ele necessita não só de uma atuação competente, mas também de um esforço físico convincente que consiga transpor para a tela os conflitos internos de seu personagem bem como os desafios físicos e mentais que o cercam. E por falar em esforço físico, a incrível cena da luta com o urso é uma das sequências mais perfeitas realizada nos últimos anos. Mesmo com o uso dos efeitos visuais e a direção segura e sem cortes desta cena, a interpretação de DiCaprio foi um fator essencial para este momento do filme obter sucesso.

Tom Hardy é outro que também apresenta uma atuação de destaque. Carregado de um sotaque texano fortíssimo, ele consegue construir na pele de Fitzgerald um homem arrogante e sem escrúpulos, representando a tirania do homem branco ao “desbravar” as terras dos nativos americanos.

O Regresso possui 12 indicações ao Oscar 2016, mas apesar de ser uma boa obra cinematográfica, não acho que deva levar um prêmio de Melhor Filme. Entretanto, merece prêmios técnicos pela grandiosidade e beleza que enaltecem o desenvolvimento do filme.

E não é que DiCaprio finalmente pode levar o Oscar? Mesmo esse não sendo o melhor papel de sua carreira, ele merece levar a estatueta pelo trabalho magnífico que ele vem desempenhando ao longo de anos! Vamos lembrar da performance sensível e linda dele em Gilbert Grape lá em 1993, como também dos seus trabalhos ao lado de Martin Scorsese em filmes como O Aviador e O Lobo de Wall Street.

Trailer legendado:

FICHA TÉCNICA:

Gênero: Ação, Drama, Thriller
Direção: Alejandro González Iñarritu
Roteiro: Mark L. Smith, Alejandro González Iñarritu

Produção: Steve Golin, Alejandro González Iñarritu, Mary Parent, Keith Redmon
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tom Hardy, Domhnall Gleeson, Will Poulter, Forrest Goodluck, Paul Anderson, Kristoffer Joner, Joshua Burge, Duane Howard, Melaw Nakehk’o, Fabrice Adde, Chelsey Wilson, Grace Dove, Arthur RedCloud, Christopher Rosamond, Robert Moloney, Amelia Crow Show, Anthony Starlight, Brendan Fletcher, Clarence Hoof
Trilha Sonora: Ryucihi Sakamoto, Carsten Nicolai

Fotografia: Emmanuel Lubezki

Montagem: Stephen Mirrione

Figurino: Jacqueline West

Design de produção: Jack Fist

Duração: 156 min.

Ano: 2015

País: EUA