segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Crítica de Filme | Chocolate (2015)



Depois de interpretar papéis secundários em produções hollywoodianas como Jurassic World e Pegando Fogo,  o ator Omar Sy retorna ao cinema francês, onde seu talento sempre é valorizado e onde ele tem a liberdade de se destacar como o ótimo e carismático ator que é. Em 2011 ele ficou bastante conhecido pelo sucesso de ‘Intocáveis’, filme de Olivier Nakache e Eric Toledano, repetindo a parceria com os diretores em ‘Samba’ de 2014. Em sua mais nova performance, Omar Sy encarna Rafael Padilla, o primeiro palhaço negro da França, conhecido popularmente como Chocolat. Dirigido por Roschdy Zem‘Chocolate’, conta a trajetória desse ilustre artista que contribuiu grandiosamente para o universo circense e teatral. Imigrante cubano, Rafael Padilla, formou um número de circo muito popular ao lado de seu parceiro George Footit durante a La Belle Epoque na França.
Com os desempenhos magníficos tanto de Omar Sy como de James Thierrée, o filme também se destaca pelo belo trabalho de Thomas Letellier na direção de fotografia ao fazer uma recriação impressionante da era retratada no longa, usando paletas de cores escolhidas cuidadosamente. Outros aspectos como o design  de produção e o figurino também engrandecem o trabalho minucioso de ambientação daquela época.
O filme não só mostra a trajetória de Padilla no mundo do circo, mas também confronta com temas sociais como o racismo e como os vícios que acabam afetando a vida de uma grande artista. Contudo, o roteiro de Cyril Gely poderia ter se aprofundado mais no contexto político da época. Talvez a opção de não mostrar esse aprofudamento tenha sido proposital, para não pesar o clima do filme, que se propõe a ser gracioso em muitos momentos. Mas com certeza, toda essa graciosidade que o filme possui vem do carisma de seu protagonista, que faz com que o espectador sinta uma imensa empatia pelo personagem e se interesse pela trajetória de Padilla.

A química entre Sy e Thierrée é tão verosimilhante que nos faz acreditar que a parceria entre Chocolat e Footit tenha sido tão intensa como foi retratada no filme. Uma parceria que revolucionou as apresentações circenses na França, mas que também em muitos momentos, exacerbou o racismo presente na sociedade. Footit sendo um palhaço branco, utilizava Padilla em muitos números como seu subalterno, o negro que levava chutes e pontapés para “alegrar” e soltar gargalhadas do público. Ao ver essas cenas, dá para se fazer uma comparação com a realidade do mundo atual, onde infelizmente, há algumas mídias de humor, que ainda utilizam a figura das minorias  (negro, homossexual, asiático, latino) como um simples alívio cômico ou figuras esteriotipadas. Se pararmos para pensar, muitos filmes e programas de tv ainda sofrem com esse tipo de problema de roteiro e ainda não acordaram para a importância que está na representatividade dentro da arte e da cultura pop, onde todos os personagens de todas as etnias, religiões, orientação sexual precisam ser desenvolvidos com a mesma profundidade. E pensando bem, do século 19 (época em que o filme se passa) para agora, século 21, muitos aspectos precoceituosos daquela sociedade ainda estão enraizados na nossa sociedade. Por isso, ‘Chocolate’ é um filme de época importantíssimo por trazer questões sociais que ainda precisam ser refletidas nos dias de hoje.
Mas voltando a falar do enredo do filme, Roschdy Zem também se preocupa em mostrar a enrome vontade de Padilla em construir sua própria carreira sozinho, almejando seu estrelato nas artes do picadeiro. A relação entre ele e a senhora Marie (interpretada por Clotilde Hesme) é outro ponto interessante do roteiro. Uma relação que a princípio não é bem vista pela sociedade parisiense da época, mostrando mais um aspecto do forte racismo enraizado naquela sociedade.
E assim como acompanhamos a ascenção de Chocolat ao estrelato, nós também nos preocupamos com a sua iminente decadência a partir do momento que em que ele mergulha no mundo dos vícios em bebida e jogos de azar, levando à uma vida de dívidas e sofrimento.
‘Chocolate’ se torna uma notável cinebiografia principalemente pelo talento de boa parte de seu elenco, em especial seu protagonista. Carismático e naturalmente engraçado, Omar Sy é sem dúvida um ator à altura da figura de Rafael Padilla, que representa um dos ícones mais importantes da arte circense. Thierrée, que claramente herdou o talento de seu avô (Charles Chaplin) para a comédia física, também se destaca como um nato ator performático, além de saber aproveitar as nuances de seu personagem, que claramente se mostra como um ambicioso empreendedor que explora seu companheiro de palcos e negócios.
O filme foi exibido este ano no Festival Varilux de Cinema Francês em várias cidades brasileiras, e agora entra em cartaz comercialmente.  Portanto, se em sua cidade ele estiver sendo exibido, não deixe de conferir essa graciosa e interessante obra do cinema francês.
À esquerda James Thierrée e Omar Sy/ à direita os verdadeiros Rafael Padilla e George Footit


Trailer legendado:



FICHA TÉCNICA:
Gênero: Biografia, Drama
Direção: Roschdy Zem
Roteiro: Cyril Gely
Produção: Eric Almayer, Nicolas Altmayer
Elenco:
 Omar Sy, James Thierrée, Clotilde Hesme, Olivier Gourmet, Fréderic Pierrot, Noémie Lvovsky, Alice de Lencquesaing, Alex Descas, Olivier Rabourdin, Héléna Soubeyrand, Xavier Beauvois
Trilha Sonora: Gabriel Yared
Fotografia: Thomas Letellier
Montagem: Monica Coleman
Figurino: Pascaline Chavanne
Design de produção: Jérémy Duchier
Duração: 110 min.
Ano: 2015
País: França




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