quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Crítica de Filme | Eu, Você e a Garota que Vai Morrer (2015)



Todo ano é lançado algum filme no estilo “coming of age movie”, como lá fora são chamados os dramas de amadurecimento, mas poucos conseguem se destacar com um roteiro eficaz e performances cativantes. Em 2012 lembro que“As Vantagens de Ser Invisível”foi o destaque daquele ano trazendo uma história tão sensível e bonita para o público jovem, recebendo respostas positivas tanto do público como da crítica especializada. E esse ano o destaque está sendo “Eu, Você e a Garota que Vai Morrer” (Me and Earl and the Dying Girl), que assim como As Vantagens também é uma adaptação de um livro no qual o roteiro é adaptado pelo próprio autor. Dirigido por Alfonso Gomez-Rejon, o filme recebeu os prêmios do Grande Júri e da Audiência no Festival de Sundance no início do ano.

Este é um dos filmes mais cativantes que vi esse ano. É engraçado, triste, comovente e profundo. Ele também subverte quase todas as expectativas, enquanto reinventa características usadas pelo cinema indie americano tentando fugir de alguns clichês desse gênero, tornando-o muito mais interessante e comovente.

Na trama, acompanhamos Greg (Thomas Mann), um adolescente desajeitado que deseja terminar o ensino médio de forma tranquila e anônima em meio às “tribos” da escola, desde o grupo de teatro aos esportistas, e tem como hobby filmar paródias homenageando clássicos do cinema ao lado de seu amigo Earl (RJ Cyler). Mas a estratégia dele não sai como planejado, já que sua mãe o convence de que ele precisa passar um tempo com Rachel (Olivia Cooke), uma garota recém-diagnosticada com leucemia. “Você não pode fazer algo bom para uma outra pessoa ?! “


E é assim que esta história improvável de ‘uma amizade condenada’ (como ele constantemente se refere durante o filme) se desenvolve. Essencialmente um drama de amadurecimento, Greg mostra os altos e baixos da doença de Rachel e da amizade de ambos. Amizade essa que se torna uma válvula de escape para ele liberar sua sensibilidade. E serve como uma droga, a qual Greg injeta-se como se fosse uma dose de Os Incompreendidos(um de seus filmes favoritos) de François Truffaut, fugindo para um outro mundo de tristeza onde ele possa expressar sua emoção e frustração.

E além de Truffaut, vários outros cineastas são referenciados. Godard, Bergman, Herzog, Kubrick, Lynch. Greg e Earl fazem suas próprias (e cômicas) versões de clássicos como Laranja MecânicaPerdidos na Noite. E é esse hobby e talento deles que cultiva mais e mais a amizade com Rachel, levando a uma específica cena no final que enche nossos olhos de lágrimas de tão linda.

Um ponto muito interessante na construção de personagens é que Greg não apresenta aqueles típicos estereótipos de muitos filmes adolescentes. Ele não é um nerd, nem um loser, nem nada disso. É apenas um jovem desajeitado e melancólico, que às vezes possui falas um tanto estranhas, formuladas propositalmente pelo roteiro para criar uma distância entre Greg e o mundo. Como Greg aprende a se abrir para aqueles ao seu redor, a narração em off se torna menos auto-reflexiva e mais uma ferramenta para expressar a emoção do personagem. É o que torna verossímil o desenvolvimento do personagem com a mudança de tom ao longo do filme.


O trio protagonista que dá título ao filme está muito bem em cena. Thomas MannRJ Cyler e Olivia Cooke carregam seus personagens conseguindo mesclar muito bem seus momentos cômicos e dramáticos. A direção de Alfonso Gomez-Rejon é eficaz e mesmo seguindo o estilo típico (e já um pouco batido) do cinema indie americano, seu trabalho se destaca.

Diferente de “A Culpa é das Estrelas” (que é um bom drama/romance envolvendo câncer, mesmo com clichês), “Eu, Você e a Garota que Vai Morrer” é mais profundo e comovente, mais natural e reflexivo.

Assistir o desenvolvimento dessa “amizade condenada” vale cada segundo dos seus 105 min de projeção. E assim como Greg, nós testemunhamos que “a parte depois de todas as partes” pode ser difícil, mas também pode ser reconfortante. 


Trailer legendado:


FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama, Comédia
Direção: Alfonso Gomez-Rejon
Roteiro: Jesse Andrews
Elenco:
 Thomas Mann, RJ Cyler, Olivia Cooke, Nick Offerman, Connie Britton. Molly Shannon, Jon Bernthal, Katherine Hughes, Matt Bennet
Produção: Jeremy Dawson, Dan Folgeman, Steven Rales

Fotografia: 
Chung-hoon Chung
Direção de Arte: Sarah M. Pott
Trilha Sonora: Brian Eno
Duração: 105 min.
Ano: 2015
País: EUA



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