segunda-feira, 26 de novembro de 2018

CRÍTICA DE SÉRIE | THE HAUNTING OF HILL HOUSE (2018)

Descrição da imagem: foto promocional da série. Pode-se ver na parte superior a mansão e as cinco crianças na frente dela. Na parte inferior da imagem está o rosto de uma das personagens, mostrado do nariz ao queixo e uma lágrima escorrendo.



The Haunting of Hill House é o tipo de série que faz com que a estória apresentada fique com você depois do fim de cada episódio e também do fechamento final de toda a narrativa.


A série com 10 episódios é uma produção original de horror/ drama da Netflix, criada pelo cineasta Mike Flanagan e adaptada do livro de Shirley Jackson, que segue uma família - os Crain - morando em uma mansão durante o verão na esperança de restaurá-la e com isso vendê-la.  Mas já no início, descobrimos que isso nunca acontece devido a uma noite trágica, que é constantemente revisitada ao longo dos episódios. A sequência de eventos é, mais ou menos, contada em uma ordem climática, na qual os roteiristas revelam progressivamente mais detalhes ao longo do tempo, pintando um quadro cada vez maior conforme a estória se desenvolve.


Acompanhamos os irmãos Crain através de sua infância e vida adulta, usando flashbacks de uma maneira eficaz para revisitar as mesmas cenas do passado na mansão com diferentes perspectivas. Isso é especialmente bem feito durante a primeira metade da série. A família é composta pelos pais, Olivia e Hugh, e seus cinco filhos: Steven, Shirley, Theodora, Nell e Luke . Cada um dos cinco primeiros episódios é contado da perspectiva de uma criança diferente (assim como cada um deles, adultos no tempo presente), revelando mais sobre cada personagem. Esta primeira metade da série é concluída com o episódio de Nell, que possui a melhor reviravolta e alguns dos momentos mais emocionantes e fortes da série . O episódio é maravilhoso e doloroso pelas mesmas razões e com certeza é o ápice da narrativa. Isso não quer dizer que a segunda metade é fraca. Ela é apenas um pouco diferente da primeira uma vez que um certo acontecimento faz com que o foco da estória caminhe para algo que de fato, reúne todos os personagens para um mesmo propósito.

Descrição da imagem: a garotinha Nell de costas está descalça sob um tapete. Afastados dela e à sua frente, estão sua família (seus pais e seus 4 irmãos), alguns deles segurando lanternas acesas próximos a escada da mansão.

A série não apela para jumps scares e sustos desnecessários durante os episódios, mas há elementos do terror gótico combinado com uma atmosfera bem estabelecida que fazem com que a estória seja um ótimo terror. Há uma pitada de medo, mas também há situações um tanto quanto assustadoras que são muito bem realizadas como acontece com as cenas que aparece a Moça do Pescoço Torto, o fantasma que assombra a filha mais nova, Nell.


A casa parece estar viva no sentido de que durante o dia dorme e durante a noite desperta. Há um ritmo bem estabelecido de pequenas coisas que acontecem durante o dia e momentos importantes que ocorrem durante a noite. E esses momentos além de ser a chave para entender a estória também são elementos fundamentais para a construção de cada personagem, especialmente os cinco irmãos. Aliás, há uma chave, literalmente falando, que serve como uma metáfora para o desenvolvimento desses personagens. Entretanto, não é o terror o principal elemento de Hill House, mas sim tudo que reverbera para o drama familiar. A série é mais sobre enfrentar os traumas pessoais e menos sobre o sobrenatural.


Cada um deles tem seus próprios demônios pessoais, bem como problemas que precisam lidar na vida adulta que levam a intrigas ao redor deles. Steve e Shirley, os irmãos mais velhos, são aqueles que mais tentam aparentar que conseguiram “superar” seus problemas, enquanto que Theo é aquela que tenta construir uma barreira interna e fazer dela seu remédio para adormecer seus traumas. Eles vivem numa espécie de negação sobre os fantasmas literais e metafóricos de seu passado. Já Nell e Luke, os gêmeos mais novos, são aqueles que nunca conseguem seguir em frente e isso fica cada vez mais evidente no decorrer da estória. De um modo geral, os personagens são moldados mais em suas emoções do que em suas motivações.



Descrição da imagem: os irmãos Steven e Luke conversam frente a frente, Atrás deles, estão suas duas irmãs, Shirley e Theo, em pé e olhando para os dois.

Todo o elenco está muito bem em cena, desde os atores mirins que interpretam os irmãos no passado assim como todo o elenco adulto. Carla Gugino está impecável no papel da mãe. As nuances da sua personagem são mostradas muitas vezes pelo olhar. O mesmo pode-se dizer de Elizabeth Reaser, que interpreta Shirley na fase adulta e traz uma complexidade à personagem. Kate Siegel é outra que surpreende a cada episódio na pele de Theo , assim como Victoria Pedretti que dá uma vulnerabilidade à sua personagem Nell e protagoniza a cena mais emocionante da série. Michiel Huisman (Steven) e Oliver Jackson-Cohen (Luke) também carregam atuações super competentes assim como Henry Thomas e Timothy Hutton, os dois atores que interpretam o pai no passado e presente respectivamente. Por falar em Henry Thomas (o eterno Elliot do clássico E.T), há uma cena no primeiro ou segundo episódio onde há uma singela homenagem ao clássico de Steven Spielberg mostrado em um dos brinquedos do filho mais novo.


Além de showrunner, Mike Flanagan dirige todos os 10 episódios e seu trabalho é espetacular tanto nas cenas dentro da mansão como nos momentos intensos dos personagens na fase adulta. Ele é conhecido por dirigir filmes de terror como O Espelho e Ouija: Origem do Mal e uma adaptação de Stephen King, o thriller Jogo Perigoso estrelado por Carla Gugino. Ele vai dirigir outra adaptação de King, o filme Doutor Sono, sequência do clássico O Iluminado de Stanley Kubrick.



Descrição da imagem: a jovem Nell se olha no espelho. vestindo um vestido de cor clara, aproxima sua mão ao rosto.

Combinados com a direção de Flanagan estão o excelente design de produção assinado por Patricio M. Farrell e a direção de arte de Heather R. Dumas e Hugo Santiago, que juntos constroem a bela ambientação no melhor estilo terror/romance gótico. 


The Haunting of Hill House é sem dúvidas, uma das séries mais interessantes e bem realizadas do ano com um roteiro bem amarrado e que prende o espectador durante seus 10 episódios. Ainda não se sabe quando sairá uma possível segunda temporada, mas o showrunner adiantou que se renovada, a série contará a história de outra família, criando assim uma antologia. Mesmo não tendo uma nova história da família Crain, ela continuará sendo uma família especial para todos que se apegaram a esses personagens.




Trailer legendado:





FICHA TÉCNICA:


Gênero: Drama, Terror
Número de episódios: 10
Criador: Mike Flanagan
Direção: Mike Flanagan

Roteiro: Mike Flanagan, Meredith Averill, Jeff Howard, Charise Castro Smith, Rebecca Klingel, Scott Kosar e Elizabeth Ann Phang
Elenco: Michiel Huisman, Elizabeth Reaser, Carla Gugino, Henry Thomas, Timothy Hutton, Kate Siegel, Victoria Pedretti, Oliver Jackson-Cohen, Lulu Wilson, Mckenna Grace, Paxton Singleton, Julian Hilliard, Violet McGraw, Anthony Ruivivar, Samantha Sloyan, Annabeth Gish, Robert Longstreet, Olive Elise Abercrombie, James Lafferty, Jordane Christie, Anna Enger Ritch, Levy Tran, May Badr, Fedor Steer, Catherine Parker, Elizabeth Becka, Brittany Godfrey

Produção: Dan Kaplow
Fotografia: Michael Fimognari
Trilha sonora: The Newton Brothers
Edição: Brian Jeremiah Smith, Ravi Subramanian, Jim Flynn
Figurino: Lynn Falconer
Design de produção: Patricio M. Farrell
Direção de arte: Heather R. Dumas, Hugo Santiago
País: EUA
Ano: 2018






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