segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

CRÍTICA DO FILME | LA LA LAND: CANTANDO ESTAÇÕES (2016)



“City of Stars, are you shining just for me?”



Os musicais dominavam a Era de Ouro em Hollywood, época em que astros e estrelas como Fred Astaire e Ginger Rogers dançavam e encantavam um público sedento pela magia que o cinema proporcionava a seus olhos sempre vidrados nas películas projetadas na telona. Muitas obras das décadas de 20 e 30 serviam como escapismo para os problemas que a sociedade norte-americana enfrentava e nada melhor do que sonhar e ter esperança assistindo estórias super alegres e românticas para esquecer o impacto do pós-Guerra ou da quebra da Bolsa de Valores em 1929. Contudo, os musicais não se limitavam a apenas esse propósito, uma vez que muitos de seus realizadores estavam contribuindo para o desenvolvimento de um gênero especial para o mundo cinematográfico. O casamento entre música e cinema é uma das mais ricas combinações artísticas e foi justamente com os musicais que a indústria tomou fôlego para produzir obras memoráveis como Cantando na Chuva de 1952, obra essa que faz uma verdadeira ode ao cinema como um todo.


Perto disso está La La Land: Cantando Estações, segundo grande trabalho do jovem cineasta Damien Chazelle, que antes tinha feito o maravilhoso Whiplash: Em Busca da Perfeição em 2014. La La Land é uma história ao mesmo tempo otimista e melancólica, romântica e verdadeira, escondida atrás das melodias e além das palavras e embutida numa realidade sonhadora. Em pouco tempo de tela já podemos perceber que o filme abraça o gênero  justamente porque tem tudo o que um belo musical precisa ter: a abertura grandiosa, musicalmente e coreograficamente surpreendente oferecendo-se como um grande prelúdio para os 127 minutos de baladas românticas, notas de jazz e todo um mundo de referências do velho cinema espalhadas por uma Los Angeles contemporânea (a grande inspiração para o título do filme), tudo maravilhosamente orquestrado sob a meticulosa direção de Chazelle. A cena de abertura, onde desconhecidos cantam e dançam Another Day of Sun em meio ao trânsito engarrafado da cidade, traduz o que será todo o primeiro ato do filme, afinal, a própria música encenada dialoga com a imagem que Los Angeles possui: uma cidade ensolarada e que está à espera daqueles que sonham em brilhar.

Os sonhos são a força motriz do filme. Eles aquecem, iluminam e desafiam a vida daqueles que realmente vivem para eles. E é nesse mundo pela busca de sonhos que conhecemos Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling) – dois caçadores de sonhos cujas aspirações diferentes se mesclam na maneira como imaginam uma vida satisfatória para ambos – eles se complementam e tornam-se o fundamento do amor um do outro. Mia é uma aspirante à atriz, que trabalha numa cafeteria dos estúdios Warner Bros, muito próxima da varanda onde filmaram cenas do clássico Casablanca com Humphrey Bogart e Ingrid Bergman (esta, uma das atrizes inspiradoras para Mia). Sebastian, é um pianista de jazz, que toca num restaurante e sonha em abrir seu próprio clube de jazz para não deixar o estilo musical morrer. Em uma cena ele diz sobre os jovens: “Veneram tudo e não valorizam nada”; uma clara afirmação para a atual sociedade que consome todos os tipos de arte, mas não sente a profundidade que a arte proporciona para nossas vidas.
Em meio à passagem das estações do ano, somos convidados a assistir aquela história de amor moldada pelos sonhos de cada um. Cada estação é uma fase da história de Mia e Sebastian e não é à toa que o filme se inicia e termina no inverno. Seus encontros acidentais no início do filme caminham para a bela cena onde eles cantam e dançam A Lovely Night, uma pequena faísca da grande química envolvente que existe entre Emma Stone e Ryan Gosling (química que já existia desde 2011, quando filmaram Amor à Toda Prova) e que só aumenta no decorrer do filme. Eles dançam e cantam não apenas porque estão num musical, mas porque naquele momento é tudo o que eles têm e precisam para se expressarem completamente, construindo assim o início de uma história de amor. Mas é no primeiro encontro oficial que a magia e o amor entre eles realmente florescem. Dentro do antigo cinema Rialto, eles assistem ao clássico Juventude Transviada e imediatamente depois, ambos estão flutuando no ar, suspensos em uma dança livre de gravidade entre as estrelas, o que lhes permite enganar espaço e tempo apenas para pousar no Observatório de Griffith (não por acaso, uma das locações de Juventude Transviada). O planetário, como um lugar concreto, se transforma em um mundo fantástico no momento em que se torna o objeto de seus devaneios. Os limites do que é real e do que não é se desvanecem facilmente em uma cidade que simboliza o nascimento do cinema, onde a vida real encontra constantemente o artificial. E é esse mundo artificial que faz Los Angeles ser encantadora. Desde a paleta de cores vivas dos figurinos e do design de produção até a bela fotografia de Linus Sandgren, onde mostra sempre um belo pôr-do-sol em vários momentos.

Entretanto, Chazelle utiliza de forma inteligente essa dicotomia real vs artificial, onde os talentos de seus protagonistas são filmados em lugares e tomadas mais intimistas, nos dizendo que aquilo é a realidade que importa e não os cenários voluptuosos que recheiam Los Angeles. Quando Sebastian toca e improvisa em seu piano, o centro é apenas ele e não o que ou quem está ao redor. O mesmo acontece na cena onde ele e Mia cantam City of Stars dentro de seu apartamento e a beleza da cena está justamente nesse cenário pequeno e íntimo para os dois. Outro belo exemplo é o teste de elenco que irá mudar a vida de Mia, e ali Chazelle escolhe filmar Emma Stone em sua maior entrega como atriz, em que ela canta Audition (The Fools Who Dream) numa pequena sala.
No decorrer entre o segundo e o terceiro ato do filme, podemos perceber o que antes era mais musical e alegre tornar-se mais melancólico e real. E a trilha instrumental de Justin Hurwitz é genial nesse aspecto, recriando suas próprias composições na faixa Epilogue, tocada na cena final e que com certeza deixa muita gente com olhinhos lacrimejantes.
La La Land é uma grandiosa ode ao poder dos sonhos, à beleza em perseguir nossos mais íntimos desejos de realização pessoal, mas também é uma bela história de amor entre duas pessoas que representam a união entre Cinema (Mia) e Música (Sebastian). E é acima de tudo, uma verdadeira dedicação dentro de uma canção para todos que acreditam que não importa qual seja seu sonho, podendo ser o mais bobo sonho do mundo; nunca deixe de sonhar, afinal o que seria da nossa jornada sem pelo menos uma pitada de sonho. “Here’s to the ones who dream. Foolish, as they may seem…”


Trailer Legendado:


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Musical, Drama, Romance
Direção: Damien Chazelle
Roteiro: Damien Chazelle
Elenco: Emma Stone, Ryan Gosling, John Legend, Rosemarie DeWitt, J.K. Simmons, Callie Herandez, Jessica Rothe, Sonoya Mizuno, Finn Wittrock, Jason Fuchs, Damon Gupton, Thom Shelton, Cinda Adams, Terry Walters, Amiée Conn, D.A. Wallach, Olivia Hamilton, Nicole Coulon, Keith Harris, Christopher Michael Stevens, David Douglas, Tom Everett Scott, Reshma Gajjar, Damian Gomez, Valarie Rae Miller,
Produção: Fred Berger, Gary Gilbert, Jordan Horowitz, Marc Platt
Fotografia: Linus Sandgren
Trilha sonora: Justin Hurwitz
Figurino: Mary Zophres
Design de produção: David Wasco
Direção de arte: Austin Gorg
Coreografia: Mandy Moore

Duração: 127 min.

País: EUA




Um comentário:

  1. Excelente filme, desfrutei muito. É uma história muito bonita, com uma essência romântica. Ryan Gosling foi perfeito para o papel, ele é um ator que as garotas amam por que é lindo, carismático e talentoso. Blade Runner 2049 é um dos seus filmes mais recentes dele, eu gostei muito. Acho que o diretor Denis Villeneuve fez um ótimo trabalho no filme, ele conseguiu fazer uma sequela impecável e manteve a mesma atmosfera. É um dos melhores filmes ficção cientifica a fotografia impecável e o elenco é incrível.

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