sábado, 10 de novembro de 2018

CRÍTICA DE SÉRIE | MANIAC (2018)

Descrição da imagem: imagem promocional da série Maniac, onde há quatro fotos: no canto superior à esquerda está Jonah Hill de olhos abertos sentado na máquina usada no experimento. Abaixo, ele está no mesmo local, mas de olhos fechados. No lado direito, está Emma Stone, também  de olhos fechados e sentada na mesma máquina. As quatro fotos possuem as cores rosa, azul, vermelho e verde.



“Eu te encontrei, ou você deveria me encontrar?” pergunta a personagem de Emma Stone, Annie. E essa pergunta é um tema recorrente na narrativa durante os 10 episódios de Maniac.  Criada pelo cineasta Cary Joji Fukunaga  e pelo roteirista Patrick Sommerville,  Maniac é uma mistura de sci-fi com um cinema mais surrealista e o desenvolvimento da narrativa da série juntamente com seu design de produção conseguem transmitir uma atmosfera um tanto quanto onírica . A ambientação que nos  mostra uma Nova York num futuro meio anacrônico, onde a tecnologia utilizada é inspirada nos anos 80 e 90, é uma das principais chaves para tornar a estória surreal. Os protagonistas Annie (Emma Stone) e Owen (Jonah Hill) sempre parecem estar revivendo uma versão do mundo real e com isso, eles sempre parecem estar descobrindo a si mesmos e trazendo maneiras de se reencontrarem em suas experiências oníricas.


Annie e Owen  se voluntariam para um teste farmacêutico de uma nova droga que busca curar traumas e qualquer sintomas de depressão. Enquanto Annie está tentando superar a perda de sua irmã através do vício no medicamento, Owen só quer pagar o aluguel com o dinheiro que receberá em troca da participação no experimento e se distanciar de sua família mesquinha. O teste, conduzido pela Dra. Azumi Fujita (Sonoya Mizuno) e pelo  Dr. James Mantleray (Justin Theroux) oferece uma solução para todos os problemas da vida enfrentados pelos voluntários, onde ninguém precisaria procurar ajuda com psicólogos e terapeutas, como por exemplo, a terapeuta Dra. Greta Mantleray (Sally Field), mãe de James e famosa por seus livros de auto-ajuda. Durante a participação no estranho experimento, Annie e Owen, são como metáforas para a necessidade de conexão que todo ser humano precisa ter para tentar ser feliz. E os seus encontros nos sonhos induzidos pelo experimento são a chave para que essa conexão  seja de fato, concretizada. Entretanto, como a Dr. Azumi fala em alguns momentos, os sonhos de Annie e Owen não deveriam estar se interconectando e uma simples falha que ocorre com a inteligência artificial da empresa é como um “destino” cósmico que leva os dois participantes a se encontrarem.

Descrição da imagem: na sala dentro da empresa farmacêutica, estão Annie e Owen (personagens de Emma Stone e Jonah Hill) vestidos com trajes cinzas e olhando um para o outro.
Em cada sonho de Annie e Owen somos convidados a mergulhar em diversas histórias como se fossem narrativas de filmes de diferentes gêneros: da comédia de assalto ao noir, passando pela fantasia como uma sátira a O Senhor dos Anéis. Nas narrativas dos sonhos, Annie e Owen se aproximam cada vez mais para que no mundo real, eles consigam entender que precisam um do outro, não como um casal romântico, mas sim, como apenas duas pessoas que se encontraram nesse mundo caótico e solitário. O caminho para a felicidade é muitas vezes caótico, mas isso não significa que desistimos da esperança de alcançá-lo em alguma medida. Tanto a história quanto o desenvolvimento de Maniac parecem ecoar esse sentimento.

Emma Stone está ótima e há momentos explosivos em sua performance que deixam sua personagem ainda mais complexa e Jonah Hill mostrou um outro lado de seu talento, com uma atuação mais introvertida e sutil uma vez que seu personagem tem sérias dificuldades em se socializar. Enquanto Owen é esquizofrênico e tem dificuldade em distinguir o que é realidade ou ficção, Annie é uma pessoa determinada em continuar num ciclo vicioso que a deixa mais próxima da memória da irmã. Assim como eles parecem não querer se desapegar de seus traumas, eles também sabem que no fundo, necessitam de uma real conexão que os façam seguir em frente.

Descrição da imagem: Annie e sua irmã Ellie, vestidas de elfas de uma história de fantasia épica e com seus arcos e flechas. Elas olham assustadas para algo em seu horizonte.


O restante do elenco também está bem em seus papéis, mas eles são, propositalmente, arquétipos caricatos de estórias  que satirizam cientistas perturbados e terapeutas ambiciosas. O personagem de Justin Theroux tem seus conflitos justificados pelo clichê de problemas com sua mãe, a Dra. Greta, interpretada maravilhosamente por Sally Field. Minha única crítica sobre a série é a representação dos personagens asiáticos, principalmente a Dra. Azumi, que é representada como uma mulher fria e workaholic, um arquétipo clichê nas produções ocidentais que possuem cientistas japoneses.

A direção de Fukunaga é sempre realizada com muita precisão e assim como na 1ª temporada de True Detective, em Maniac ele também utiliza alguns recursos estilísticos que falam em favor da narrativa que está sendo apresentada, como por exemplo, cenas em plano-sequência perfeitamente orquestradas.  A fotografia assinada por Darren Lew é outro aspecto marcante da série que mescla paletas mais coloridas (nos cenários da empresa farmacêutica e nos sonhos) e paletas mais sóbrias (no cenário urbano de Nova York). Além disso, a mistura de gêneros que percorrem a realidade e os sonhos dos personagens são outros aspectos muito bem construídos e que se tornam pequenos subplots surreais. No espaço de seus 10 episódios, Maniac é um comentário social de ficção científica oitentista, uma comédia de assalto, uma história noir moderna , uma fantasia épica, uma aventura de trapaceiros e um bizarro suspense geopolítico dos anos 60 com alienígenas adicionados.


Maniac é uma história sobre amor e conexão, uma história simples, porém surreal sobre o processo de trauma e cura, contada com uma energia envolvente e em um estilo atraente. É um conto de dois personagens navegando uma realidade fraturada, em busca de uma conexão significativa. O mundo é um lugar bagunçado, complicado e caótico, mas a série nunca deixa a esperança de que um dia possa fazer sentido. 




Trailer legendado




FICHA TÉCNICA:


Gênero: Drama, Ficção Científica
Direção: Cary Joji Fukunaga; 
Criadores: Cary Joji Fukunaga, Patrick Somerville
Roteiro: Ole Marius Araldsen, Cary Joji Fukunaga, Danielle Henderson, Kjetil Indregard, Espen Petrus Andersen Lervaag, Håkon Bast Mossige, Sam L. Roberts, Patrick Somerville, Nick Cuse, Mauricio Katz, Caroline Williams, Amelia Gray
Elenco: Emma Stone, Jonah Hill, Sonoya Mizuno, Justin Theroux, Sally Field, Gabriel Byrne, Kathleen Choe, Danny Hoch, Allyce Beasley, Stephen Hill, Hank Azaria, James Monroe Iglehart, Dai Ishiguro, Sejal Shah, Billy Magnussem, Julia Garner, Jemina Kirke, Alexandra Curran, Nate Craig, Rome Kanda, Trudie Styler, Glenn Fleshler
Produção: Carol Cuddy, Jessica Levin, Jon Mallard

Fotografia: Darren Lew

Trilha sonora: Dan Romer
Edição: Pete Beaudreau, Tim Streeto
Figurino: Jenny Eagan 
Design de produção: Alex DiGerlando
Direção de arte: Audra Avery, Anu Schwartz
País: EUA
Ano: 2018





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